sexta-feira, 25 de março de 2022

Biscoitos de Leite

ivro útil - Tratado de Cozinha, Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira.
2ª edição. Editora: Famalicão, Tipografia Minerva. Pág. 332

Biscoitos de Leite

450 gramas de açúcar branco
450 gramas de manteiga
0,25 litros de leite.

E farinha bastante para se formar a massa que se estende com um rolo, e depois se corta ao feito que se quiser, e vão ao forno, pulverizados de farinha, a cozer a fogo brando.

Livro útil - Tratado de Cozinha de Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira

Livro útil - Tratado de Cozinha, Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira.
2ª edição. Editora: Famalicão, Tipografia Minerva.


E mais um belíssimo acrescento para a biblioteca do blog As Receitas da Avó Helena e da Avó Eduarda. Trata-se de um Tratado de Cozinha (Colecção de receitas culinárias e de utilidade doméstica coligidas, experimentadas e algumas modificadas), por Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira, na sua 2ª edição (sem data). A 1ª edição é de 1894. Ambas são impressas em Famalicão, pela Tipografia Minerva. Parece-me a mim que esta 2ª edição não andará nada longe da data da 1ª edição.
Este livro não se encontra referido no levantamento pela Biblioteca Nacional no seu Livros Portugueses de Cozinha. Mesmo da autora, não tenho qualquer informação a não que ela já foi referida neste post aqui do blog: https://asreceitasdaavohelena.blogspot.com/2020/05/ameijoas-besugos-e-bifes.html
 
O livro apresenta-se bem cuidado, com um prólogo escrito pela autora - que cita amiúde Maria Amélia Vaz de Carvalho -, parte das receitas têm o seu nome traduzido para francês - très chic -, com um bom índice alfabético e algumas curiosidades como sendo a idealização de uma série de Menus de jantar e de almoço.
 
Como é habitual em algumas destas publicações, as receitas que usam gramagens são poucas - a balança, provavelmente, não seria um utensílio presente em todos os lares - usando-se mais as medidas de copos/caixas como o arratel e a canada.

Se alguém tiver alguma informação sobre a sua autora e quiser partilhá-la, agradecia.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Pastéis do Louriçal


Pastéis do Louriçal
 
1/2 [meio] kilo de açúcar
100 gramas de coco ralado
2 colheres de sopa de farinha
10 gemas
2 claras

Leva-se o açúcar a um ponto leve juntando o coco e deixando ferver um pouco. Em estando frio junta-se aos ovos [que] devem ter sido bem batidos com a farinha. Mistura-se tu[do] bem e vai ao forno em forminhas bem untadas com manteiga.
Depois de cozidos, envolvem-se em açúcar.

[Dactilografado em Luanda, 8 de Março de 1942]

Torrões de Amêndoas


Torrões de Amêndoas

500 gramas de açúcar
Duas claras
200 gramas de amêndoas
Um pau de chocolate ou cacau.

Escaldam-se as amêndoas, torram-se e partem-se aos bocados. Junta-se tudo com as claras um pouco batidas, amassa-se bem e formam-se bolinhos, que vão ao forno em cima de papel manteiga.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Bacalhau à Batalha Reis (resta saber se do António ou do Jaime... eu alinho no Jaime!)


Bacalhau à Batalha Reis
 
Bacalhau assado q.b.
Batatas cozidas q.b.
Ovos cozidos q.b.

Cozem-se as batatas com pele e 1 ou 2 ovos. Tomam-se as postas de bacalhau e enxugam-se e assam-se na grelha.
Descascam-se as batatas que se cortam às rodelas e dispõe-se na travessa juntamente com o bacalhau dividido em lascas e livre de espinhos e pele.
Leva também as claras dos ovos cozidos.
Em seguida prepara-se um molho espesso esmagando dentro de uma tigela as gemas dos ovos e dois dentes de alho muito picadinho. Junta-se pimenta e bastante azeite.
Bate-se tudo muito bem até ficar ligado e na ocasião de servir deita-se sobre o bacalhau e as batatas.
(Bom)
 
E quem foi Batalha Reis?! E falamos do António Batalha Reis ou do Jaime Batalha Reis? HUM... eu até aposto no Jaime:

António Batalha Reis
 

Reis, António Batalha (Lisboa, 7 Dezembro 1838 – 13 Novembro 1917)

Biografia

António Batalha Reis foi o segundo filho de uma família burguesa liberal. Filho de Maria Romana Batalha e de António Nunes dos Reis, velho amigo de Almeida Garrett e afamado viticultor do Turcifal (Torres Novas), António entrou aos onze anos para o Colégio do doutor Cicouro. De lá saiu em 1855 para fazer os preparatórios em Coimbra aí ingressando no curso de Filosofia em 1856. Em 1859, regressa a Lisboa para se matricular diretamente no 2º ano do Instituto Geral de Agricultura. Com especialização em enologia, termina os estudos em 1861 e inicia a sua vida profissional como amanuense da Redação da Câmara dos Deputados. Será promovido a 2º oficial em 1864.

Já casado com Amélia Leopoldina de Mendonça e Silva, António publica o seu primeiro livro, Enxofre e vinho, em 1871. Este livro resultará da necessidade de fazer acompanhar os três modelos de sulfurador de sua invenção, o ‘theinoxyphero,’ de um manual explicativo. Publicitado na imprensa da especialidade, o sulfurador chegou a ser introduzido em Espanha. O livro e o invento foram acompanhados de palestras e demonstrações pelos principais centros vitivinícolas do país.

Em 1872, por iniciativa da Real Associação Central da Agricultura de Portugal (RACAP) de que seu pai fora já vice-presidente da Assembleia Geral, António foi à exposição Internacional de Lyon como delegado para se inteirar da maquinaria mais moderna e estudar a vitivinicultura da região. Daqui resultou, em 1873, A vinha e o vinho. No ano seguinte, António integra a primeira comissão (presidida pelo seu irmão mais novo, Jaime) designada pelo governo para o estudo da filoxera no Douro. Em 1874, é nomeado comissário técnico à Exposição Vinícola de Londres, acompanhando o químico António Augusto de Aguiar. Em 1875, organiza a exposição de conhaques e vinhos especiais para exportação para o Brasil. 
 
Na qualidade de membro da Comissão Central de Estudos da Filoxera, rumará a França em 1876 a fim de estudar a praga e representar Portugal no Congresso Vitícola de Paris. No relatório publicado em 1877, fará várias recomendações quanto à forma de eliminar a praga e evitar o seu alastramento, e aconselhará a utilização de castas de videira americana resistentes como porta-enxertos como única forma de salvar as castas nacionais. Em 1882, é incumbido de secretariar a comissão de combate à filoxera no Sul do país.

Entre 1879 e 1883, António está diretamente envolvido na redação e administração da Gazeta dos Lavradores, órgão da RACAP, onde ele e Jaime, e por vezes o pai e um tio, publicam artigos. Mais tarde, fundará e/ou dirigirá também o Arquivo Rural e A Cartilha Rural, cuja única aspiração seria ’educar os operários agrícolas.’ Profícuo divulgador da enologia e das boas práticas vitivinícolas durante toda a sua vida, António colaborou com outras revistas agrícolas e com a imprensa diária. Neste particular, António fez parte de uma geração de agrónomos publicistas discípula de João Inácio Ferreira Lapa. Publicou no Jornal Oficial de Agricultura, no Agricultor do Norte, no Aurora do Lima, no Jornal de Horticultura do Norte, em A vinha Portuguesa, no Portugal Agrícola, no Portugal vinícola, no Boletim da Real Associação Central de Agricultura de Portugal, e em O Século Agrícola.
 
Foi ainda correspondente em Portugal do Moniteur Vinicole. Em 1882, inaugura no Comercio do Porto uma série de artigos sobre a regeneração da vinha. A colaboração com os jornais diários irá ser, de resto, uma constante ao longo da sua vida e a partir de 1892 manterá regularmente a crónica ‘Revista agrícola’ no Comércio do Porto.“ Manterá também colaboração com diários lisboetas de grande tiragem como O Século, o Diário de Notícias, a Pátria e o Novidades e diários regionais como o Diário do Comércio do Funchal.

Ainda em 1880, António representa Portugal no Congresso Internacional de Saragoça e é secretário do Congresso Vitícola realizado no Porto. Em 1881 é nomeado sócio de mérito da RACAP. Por essa altura, ficará incumbido de proceder à classificação geral dos vinhos de Portugal e D. Luís encarrega-o pessoalmente do estabelecimento dos viveiros de cepas americanas nas propriedades da casa de Bragança e da casa Real. Enquanto diplomata, Jaime socorrer-se-á da relação próxima do irmão com a casa Real. Na qualidade de Procurador-Geral à Junta Geral do Distrito de Lisboa, António impulsiona, em 1882 aquela que será a III exposição agrícola em Lisboa, e que se realizará na Tapada da Ajuda em 1884 (em 1883, por iniciativa da Junta, a RACAP é chamada a organizar o certame e Jaime nomeado para a dirigir). António acompanhará este certame como membro da comissão executiva. Dois anos depois é nomeado agrónomo ao serviço do Ministério das Obras Públicas.

Após dois anos de inatividade profissional resultantes de uma queda em 1885 que o deixou cego do olho direito, António é nomeado diretor da recém-criada Escola Prática de Viticultura e Enologia de Torres Vedras. Em 1890, deixa a escola e o ensino e parte em comissão de serviço para a França e a Itália para estudar os híbridos americanos e as Escolas Agrícolas. De regresso, proferirá uma série de conferências em Lisboa, Porto e Viseu sobre a filoxera e sobre a utilização de leveduras selecionadas na vinificação. Um conflito em 1891 com o então diretor geral da agricultura, Elvino de Brito, leva-o a abandonar o serviço oficial até 1894. Neste período, escreve três livros, o primeiro dos quais recebeu crítica positiva na imprensa especializada francesa: Memoria sobre vides americanas e suas híbridas, Mildiú e Vinho de Pasto. Este último será a base da tese apresentada por António ao Congresso Vinícola de Lisboa, organizado pela RACAP em 1895. Um ano depois, e a pedido do dono de uma pedreira, António publica O gesso onde dá instruções sobre a sua utilização como adubo. Durante 1896 dirigiu ainda os trabalhos de vinificação do Sindicato Agrícola de Guimarães e, em 1897, passou a diretor técnico da Adega Social de Viana do Alentejo.

Entre 1902 e 1913, António foi diretor das missões enotécnicas e lecionou nas Escolas Móveis Maria Cristina em Rio Tinto, Vila Nova de Famalicão, Mirandela, Guimarães, Torres Vedras, Lagoa e Régua. Produziu alguns manuais para estas escolas e foi articulista da sua revista, O Lavrador. De 1904 a 1906 dirigiu a adega social de Carcavelos; em 1905 foi à ilha da Madeira estudar as causas da decadência do seu comércio e em 1906 fez conferências no Porto e na Figueira da Foz. Extintas as missões enotécnicas em 1913, retirou-se para o seu gabinete de trabalho.

Recebeu medalhas de ouro na exposição internacional de Lyon em 1872 e na de Paris de 1887. Em 1890, integrou a Comissão Internacional de Agricultura a convite do ministro da agricultura francês. Foi sócio honorário da Sociedade dos Agricultores de França, dos Agricultores de Itália e de Espanha, cavaleiro de Cristo e de Carlos III de Espanha.

Faleceu de uma angina no quarto de sua casa na Avenida da Liberdade, 117, acompanhado de seu filho, Alberto Batalha Reis, também ele enólogo, e familiares. Pouco antes mandara abrir uma garrafa de Porto de 1793 para que bebessem à sua saúde.

Obras mais relevantes
• António Batalha Reis, Enxofre e vinho. (Lisboa: Typographia de Castro Irmão, 1871).
• António Batalha Reis, A vinha e o vinho em 1872. Relatório sobre a exposição vinícola de lyão de 1872, (Lisboa: Imprensa Nacional, 1873).
• António Batalha Reis, Estado da questão do phylloxera em 1876. Relatório apresentado à Comissão Central de Estudos sobre o phylloxera. (Lisboa: Imprensa Nacional, 1877).
• António Batalha Reis, Memória sobre vides americanas e suas hibridas. (Lisboa: Imprensa Nacional, 1892).
• António Batalha Reis, Vinho de Pasto, (Lisboa, Livraria de Maria António Pereira, 1894).
 
Ficheiro do Artigo: Clique Aqui
 
Ou será o...
Jaime Batalha Reis


Jaime Batalha Reis nasceu em Lisboa, a 24 de dezembro de 1847, o que provavelmente veio perturbar a ceia familiar de Natal e alterar a rotina dos dois irmãos mais velhos, Adelina e António. Como era boa  tradição  liberal, e depois republicana, o pai, António Nunes dos Reis, velho amigo de Almeida Garrett, batizara os seus filhos apenas com um nome próprio acrescentando-lhe o apelido materno — Batalha — e o paterno — Reis. Como padrinho teve um irmão da mãe e como madrinha uma Nossa Senhora, a da Conceição.

As primeiras letras aprendeu-as no colégio dum velho liberal, Xavier de Quadros, o Colégio de S.to António. Depois, a necessidade de uma preparação mais cuidada levou o pai a inscrevê-lo no Colégio Alemão, conhecido por Colégio Roeder, apelido do proprietário e diretor, Hermann Roeder. Talvez o pai, por essa altura, já nao habitasse em Lisboa, acolhendo-se às suas propriedades no Turcifal onde possuía uma bela casa e era produtor e exportador de reputado vinho. Entretanto Jaime, acabada a sua preparação no Colégio Alemão — conhecido pela boa qualidade do ensino e onde, além da apredizagem das línguas alemã, inglesa e francesa, da prática da disciplina de Ginástica (uma raridade na época!), aprendera a amar a literatura — foi matricular-se no Instituto Geral de Agricultura de Lisboa. Jaime tirou o curso de agrónomo e engenheiro florestal sem dificuldades, com altas classificações e muito premiado. Em fins de 1866 estava formado e preparava-se para entrar na vida ativa, ou seja, começava à procura de emprego. Talvez cause admiração que um aluno estimado por colegas e professores e com um tão brilhante curso não tivesse conseguido lugar como professor no Instituto onde acabara de se formar. Ele próprio alude a essa deceção numa carta, que escreverá mais tarde, à namorada:

«Tinha acabado o curso com muitos prémios e deixado no Instituto Agrícola uma reputação filha do meu estudo […] e da simpatia d’alguns lentes, uma reputação que valia bem mais do que eu. Tinha todas as probabilidades de ficar, e apesar disso nada desde então até hoje.»

Talvez tenha havido uma razão para não ter sido convidado. O seu último trabalho, a dissertação com que se terminava o curso, fizera-o Jaime sobre as novas teorias de Darwin, ao arrepio das teses, ao tempo, expendidas oficialmente. Jaime Batalha Reis sempre ficou convencido de que essa e outras «irreverências» da juventude lhe fecharam, durante alguns anos, muitas portas. Entretanto, prestes a acabar o curso, conhecera Eça de Queiroz na redação da Gazeta de Portugal, onde vira, certa noite, conta ele na «lntrodução» que escreve para Prosas Bárbaras:

«[…] uma figura muito magra, muito esguia, muito encurvada, de pescoço muito alto, cabeça pequena e aguda que se me mostrava inteiramente desenhada a preto intenso e amarelo desmaiado. Cobria-o uma sobrecasaca preta abotoada até à barba, uma  gravata  alta e preta,  umas calças pretas. Tinha as faces lívidas e magríssimas, o cabelo corredio muito preto, do qual se destacava uma madeixa triangular, ondulante, na testa pálida que parecia estreita, sobre os olhos cobertos por lunetas fumadas, de aros muito grossos e muito negros. Um bigode farto, e também muito preto […] Era o Eça de Queiroz.»

Saíram juntos da redação do jornal e ficaram amigos para sempre. Foi então que Jaime se juntou a Eça e à sua rodada  de colegas, mergulhando na boémia da capital. Morava então em pleno Bairro Alto, na esquina da Travessa do Guarda-Mor, num 1.º andar que se transformou rapidamente numa tertúlia literária a que mais tarde seria dado o nome de «Cenáculo». Por esse tempo, o recém-formado agrónomo continuava desesperadamente à procura de emprego, um pouco ao sabor das cunhas do pai, de familiares e amigos, e acicatado pelo facto de se ter apaixonado perdidamente por uma filha de um dos mais celébres cenógrafos do seu tempo, Giuseppe Cinatti. Chamava-se ela Celeste Maria Luísa Cinatti. Jaime preenchia o tempo namorando «da rua para a janela», patuscava com os amigos, frequentava todos os espectáculos lisboetas, principalmente  o S. Carlos, e continuava a devorar obras literárias e científicas. Repete constantemente nas cartas de namoro:

«Tenho estado no Grémio a ler O Homem Que Ri e uns artigos na revista germânica sobre a economia rural da Alemanha.» (…) «Fui para o Grémio, estive lá a ler e a estudar até agora.»

Jaime Batalha Reis começa, por esta altura, a colaborar na Revista Agrícola, órgão da Real Associação Central da Agricultura Portuguesa a que, naturalmente, pertencia. E foi no ano de 68 que se deu o conhecimento com Antero, pela mãe de Eça. E logo em 69 os três amigos, num delírio criativo, inventaram o poeta satânico Carlos Fradique Mendes, cuja produção poética era claramente influenciada pelas Flores do Mal de Baudelaire.

«O verso para mim é uma firma muito artificial, que só a sangue frio e com atenção de produzir extravagâncias é que eu posso fazê-lo. Só para o Fradique é que posso ser poeta. Inspiração franca, espontânea e natural, não a tenho. Hei-de mandar-te as diferentes poesias que se têm feito para o Fradique Mendes sem os nomes dos seus autores. Quero ver se tu adivinhas quais são as minhas.»

Batalha Reis e Antero, tornados inseparáveis, foram morar para S. Pedro de Alcântara numa casa que começou a ser frequentada por outros jovens, alguns com vincados interesses socialistas. Foi a esta casa que Oliveira Martins também veio para conversar, discutir, trocar livros e ideias. E com ele se fechou não o círculo mas o quadrado – Eça, Batalha, Antero e Oliveira Martins. Todos diferentes entre si, mas com interesses, estatuto social e apetência cultural comuns. Dos quatro, Batalha Reis era o que havia adquirido uma formação verdadeiramente científica e que nem sempre as suas razões podiam ser apreendidas pelos amigos, com a desvantagem, ainda, de ser o mais novo deles. Para amealhar uns tostões, escrevia pequenos artigos sobre ópera para a Crónica dos Teatros de Portugal.  As preocupações políticas, inspiradas pelas leituras proudhonistas e pelos ventos iberistas que assolavam algumas cabeças, arrastaram Antero e Batalha para a experiência política. No ano de 1870, Batalha, Antero e Oliveira Martins, com a adesão de alguns amigos, Eça, Manuel de Arriaga e Antonio Enes, tentaram o jornalismo político, em defesa dos ideais socialistas e da corrente iberista, fundando o jornal A Républica. Entretanto, Mendes Leal sugeriu a António Reis a hipótese de um consulado para o seu filho mais novo. Ia abrir um concurso para o preenchimento de algumas vagas no quadro diplomático. Jaime Batalha Reis entusiasma-se com a ideia mas sente-se um pouco magoado com Eça. Em carta à namorada explica:

«Dizes tu, minha Amiguinha, que te faz efeito de que eu e o Eça sendo amigos, não devíamos ir ao mesmo concurso. Tens razão. Fui eu o primeiro a falar nesses concursos ainda em tempos em que Mendes Leal era ministro. Falei nisso e disse mesmo com toda a franqueza de amigo ao Eça o que o Mendes Leal dissera a meu Pai e disse-lhe que ia a concurso. O Eça disse-me que também ia. Depois soube pelo Conde de Resende que o Eça fora falar ao Mendes Leal sem me dizer nada a mim. Não achei isto bonito mas não lhe disse nada.»

Jaime faz as provas e considera que lhe correram bem ficando bastante esperançado, até porque, diz ele:

«Os que forem aprovados neste concurso ficam já admitidos e na próxima vaga que houver são sem mais concursos feitos cônsules.»

Os resultados do concurso saem e Eça aparece classificado em 1.º lugar. Isto ia contra as mais ínfimas expectativas de Batalha Reis e até dos boatos que circulavam em Lisboa, alguns jornais chegaram a noticiar que ficara em primeiro lugar, e até alguns amigos do pai, bem colocados, lho haviam confidenciado. A verdade é que Jaime fica em 3.º lugar, sendo o 2.º lugar para Manuel Saldanha da Gama. Batalha Reis só alcançará o seu posto de 1.º cônsul doze anos após este concurso em que tantas esperanças havia posto!  Nisto Jaime e Antero mudam-se para a Rua dos Prazeres. E foi aqui que as «Conferências do Casino» se constituíram. Antero e Batalha Reis foram os dois organizadores, mas todo o «Cenáculo» comungava das mesmas ideias: renovação cultural num país atrasado. Os temas versados e as posições tomadas pelos conferentes levantaram imediatos protestos nos jornais. O resultado foi a proibição das conferências e o encerramento da sala decretado pelo ministro do reino, marquês de Ávila e Bolama. Os protestos que se seguiram, por parte dos conferentes, foram logo reforçados por dois folhetos, um de Antero e outro de Jaime. Dirigindo-se ao marquês Ávila e Bolama, Batalha Reis, depois de começar por afirmar que «Eu  sou socialista», termina  dizendo:

«Sabe V. Ex.ª porque das 300 ou 400 pessoas que nos acompanharam  a protestar  contra  a sua  Portaria  só assinaram 59? Porque as outras eram empregados públicos, isto é: homens que não podiam manifestar a sua consciência, a sua convicção, homens a quem V. Ex.ª demitiria no dia seguinte àquele em que tivessem mostrado que possuiam uma alma, uma ideia, um sintoma de independência. E sabe V. Ex.ª o que diz a opinião pública? Que nunca serei nem agrónomo oficial para que todavia me habilitam os meus trabalhos e os meus cursos, nem cônsul de Portugal para que me habilitou um concurso por provas públicas. Foi em cumprimento do meu dever que me propus a falar na sala do Casino; e em cumprimento do meu dever que escrevo esta carta a V. Ex.ª Muito do estilo dela deriva de eu me ter colocado no seguinte ponto de vista: a ignorância de V. Ex.ª,  o que V. Ex.ª fez obriga-me a descrer ou da sua ilustração ou da sua probidade. Eu descri da sua ilustração. Todos os atos da vida de V. Ex.ª me autorizavam a fazê-lo.»

Não podemos deixar de sublinhar a coragem  que esta sua intervenção  representava  no quadro da desesperada procura de emprego para se poder casar com Celeste Cinatti. Será a sua capacidade como agrónomo que lhe irá dar essa recompensa. Em fevereiro de 72 é nomeado chefe do Serviço  Agrícola do Instituto Geral de Agricultura e no outono desse ano substitui Andrade Corvo, lente do Instituto. Logo que sai a nomeação acontece o tão esperado casamento. Em 1873 nasce-lhes a primeira filha, a que dão o nome da mãe. Batalha Reis continua a dar  aulas e a  escrever para Revista Agrícola uma longa série de artigos  sob o título «Princípios de Agricultura Popular», escrevendo também para outras revistas de especialidade.

Durante este período, Batalha Reis desenvolvia igualmente uma prodigiosa campanha para angariar fundos e colaboradores para a Revista Ocidental. Depois de vários contratempos a revista vê luz do dia em fevereiro de 75. Nos anos que se seguem, Batalha Reis, vai continuar a somar êxitos no currículo e é aceite como membro efetivo da Sociedade de Geografia de Lisboa. Em  1880 é criada no Instituto Geral de Agricultura a cadeira de Microscopia, que lhe é destinada, utilizando pela primeira vez o microscópio,  técnica  em que fora iniciado pelo  seu amigo Curry Cabral. O seu interesse pelos aspetos mais literários da vida intelectual não era ignorado no  meio lisboeta e, aos poucos, o seu círculo de conhecimentos alarga-se: torna-se amigo dos irmãos Bordalo Pinheiro e o seu interesse pela pintura toma novos rumos e aprofunda-se.

Finalmente, em julho de 82, é nomeado 1.º cônsul para a vaga existente em Newcastle. O mercado inglês parece-lhe ter as condições ideais para importar e comercializar o vinho português, e passa a bombardear o ministério com relatórios e planos. É certo que outras preocupações mais prementes começavam a surgir: como justificar e defender a nossa permanência em África, frente às outras potências colonialistas muito mais poderosas no terreno, especialmente a Inglaterra? É então que Jaime Batalha Reis se lança na polémica respondendo aos ataques de que Portugal era alvo nos jornais ingleses:

«A verdade é que há muitos anos […] que os ingleses se habituaram a ler nos seus jornais e nos seus livros afirmações desfavoráveis a Portugal, a que ninguém responde.»

Perante esta situação, o novo cônsul começa a atuar de várias formas: envia relatórios sobre o assunto alertando o Governo Português,  tem resposta  pronta  nos jornais  ingleses  aos ataques a Portugal  e faz conferências nas sociedades científicas inglesas onde o seu nome se ia tornando cada vez mais conhecido. Estudos Geográficos e Históricos, obra póstuma, reúne as suas mais importantes intervenções dessa época. Jaime Batalha Reis continua a ser solicitado para diferentes colaborações nos jornais portugueses que lhe aumentavam os recursos financeiros, e ainda bem,  dado que lhe tinham nascido mais quatro  filhos. E  é no  meio  desta  intensa  atividade  que  recebe a terrível e inesperada notícia do suicídio de Antero. A morte de Oliveira Martins, logo a seguir, veio abalá-lo ainda mais.  Em 1897 é nomeado cônsul-geral em Londres. E no verão de 1990, com onze dias de intervalo, morrem-lhe a mulher e o seu outro grande amigo: Eça de Queiroz. Quando se dá a Revolução de 5 de Outubro, Jaime Batalha Reis encontra-se em Bruxelas. Bernardino Machado, que lhe apreciava a inteligência e a capacidade de trabalho, chama-o a Lisboa e encarrega-o da remodelação do ministério. Em 1911 é nomeado ministro plenipotenciário para S. Petersburgo, embarcando no paquete alemão Konig Friedrich August. Em novembro escreve às filhas, narrando-lhes a cerimónia da entrega das credenciais:

 «[…] abriu-se uma porta pela quase adiantou o Grão-mestre das cerimónias que me anunciou em voz muito alta, dizendo o meu nome um tanto estropiado, e a minha qualidade, retirando-se, em seguida, pela mesma porta que se fechou.  Vi então diante de mim um homem pequeno, magro, macilento, de barba castanha clara, que se adiantou para mim sorrindo, e estendendo-me a mão. Entreguei-lhe, com algumas  frases oficiais, as  minhas  credenciais  […]. E começámos a conversar. Não podem imaginar nada mais afável, mais natural, mais familiar, mais simpático do que o Tsar. […] Contou-me muitas anedotas engraçadas da sua completa semelhança com o atual Rei de Inglaterra. […] Assim estivemos quase uma hora. Saí de la encantado.»

E Jaime Batalha Reis é apanhado no vórtice da Revolução de 1917. Só em 1918 consegue sair da Rússia por Murmarsk, no meio de grande susto e enorme confusão. O socialista Batalha Reis não conseguira discernir, no meio da luta renhida das diferentes fações, que uma certa forma de socialismo estava a ponto de se concretizar, e que muitos dos princípios que defendera na mocidade também faziam parte das aspirações de alguns desses revolucionários.  É de seguida nomeado delegado plenipotenciário na Conferência de Paz, em Paris. Tinha então 71 anos! A atividade que desenvolve  é prodigiosa.  No regresso a Portugal, cria o Secretariado da Sociedade das Nações e lança as bases da Associação Portuguesa para a Sociedade das Nações, de que veio a ser vice-presidente. Em agosto de 1922 sai o decreto da sua aposentação. Encontra-se finalmente livre para poder dedicar-se à «sua obra» com que sonhara ao longo dos anos, que no dizer do amigo Viana da Mota se chamaria Explicação do Universo.  Nos últimos anos que lhe restam até 1935, data em que morre vítima de trombose, carteia-se com escritores e políticos da nova geração. Ao retiro da Quinta do Turcifal continuam a afluir honrosas nomeações para diferentes associações, sociedades e congressos. Batalha Reis sente‑se, contudo, sozinho com o seu sonho: escrever a obra filosófica esparsa em centenas de papéis misturados com milhares de cartas e rascunhos que abarrotavam os dezanove armários da sua sala de trabalho. Este espetáculo levava-o a exclamar completamente desalentado:

«Não posso! Não posso! Não posso!»

E não podia, com efeito. Tinha 78 anos e acabara de ser operado às cataratas que quase o haviam deixado cego. Seriam as filhas quem, após a sua morte, organizariam o seu Espólio, oferecendo-o, mais tarde, à Biblioteca Nacional de Portugal.

Esta biografia  teve por base o livro O Essencial sobre Jaime Batalha Reis, de autoria de Maria José Marinho. 

Ficheiro do Artigo: Clique Aqui

quinta-feira, 3 de março de 2022

Enxovalhados do Alentejo


Enxovalhados do Alentejo
 
20 g. açúcar 
1/2 [meio quilo] pão em massa
Banha uma colher de sopa bem cheia
Um pouco de casca de limão
Uma pitadinha de canela
Querendo deita-se um ovo inteiro ou um pouco de claras em vez do ovo. 
 
Bate-se com a mão porque é uma massa fininha, não se deixe muito dura e vai ao forno num tabuleiro untado de manteiga, e depois de cozida parte-se aos palitos que voltam outra vez ao forno a tostar um pouco conforme o gosto de cada um.

terça-feira, 1 de março de 2022

Gungunhanas

Gungunhanas
 
250 gr. de açúcar, 250 gr. de farinha, 1 chávenas (de chá) de leite, 1 colher de chá de soda, um pouco de canela, uma colher de sopa de manteiga derretida, um cálice de vinho do Porto, 1 ou 2 ovos inteiros.
Bate-se tudo junto e vai ao forno em tabuleiro untado de manteiga. Partem-se aos quadradinhos e embrulham-se em açúcar pilé.
 
Gungunhana




Chefe tribal poderoso e terceiro imperador dos Vátuas, Gungunhana nasceu em 1839, em Moçambique, e morreu em 1906, em Angra do Heroísmo. O seu reinado teve início em 1884.

Colocado perante a colonização europeia, Gungunhana pretendia prestar vassalagem a Portugal, mas a tirania que usava na relação com o seu povo levou a que o governo português pusesse fim às suas atividades cruéis. Travados vários combates, entre os quais os de Marracuene, Mongul e Coolela, Gungunhana foi derrotado pelas forças de Eduardo Galhardo e aprisionado em Chaimite pelo capitão Joaquim Mouzinho de Albuquerque, corria então o ano de 1895.

Trazido para Lisboa, Gungunhana não mais voltaria a território de Moçambique. Foi primeiramente encarcerado em Monsanto, de onde mais tarde, a 23 de junho de 1896, foi transferido para Angra do Heroísmo. Aí aprendeu a ler e a escrever e foi convertido à força ao cristianismo e batizado com o nome de Reynaldo Frederico Gugunhana.

A 23 de dezembro de 1906, Gungunhana morreu, no hospital militar de Angra do Heroísmo, vítima de hemorragia cerebral.

A 15 de junho de 1985, por ocasião do décimo aniversário da independência de Moçambique, os Presidentes Ramalho Eanes e Samora Machel aceitaram a transladação dos restos mortais do resistente colonial, Gungunhana (ou Ngungunhane), para a Fortaleza de Maputo.
 
Fonte: Infopédia

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