terça-feira, 30 de julho de 2013

Queijadinhas do Convento de Estremoz

Brados do Alentejo, 1933

Queijadinhas do Convento de Estremoz

Em meio litro de mel em ponto de pasta, deita-se meio quilo de nozes pisadas (com a pele), uma chávena de cidrão pisado, outra de gila e outra de manteiga de vacas. Logo que esteja bem misturado arreda-se do lume e liga-se a esta massa-recheio uma dúzia de gemas de ovos, canela e um cravinho da Índia bem pisado. Tira-se do tacho e logo que esteja frio, deita-se em formas forradas de massa tenra e farinha. Depois de se deitarem as gemas vai ao lume a secar um pouco.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Doce de Vinagre


 Brados do Alentejo, 1932

Doce de Vinagre

Pegue num tachinho, deite-lhe meio litro de leite, ponha ao lume e quando levantar fervura junte-lhe duzentos e cinquenta gramas de açúcar, uma pequena boneca de ervas doces e uma colher de vinagre branco. Mexa tudo, para derreter o açúcar, e deixe ferver em lume brando até reduzir o liquido e tomar ponto. Parta com a colher os farrapos que se formaram do leite, junte-lhe seis gemas e uma clara de ovo batida e vá mexendo até tomar consistência. Quando tiver fervido um pouco e estiver grossinho tire-o do lume, mas resguarde-o, porque apesar de ser de vinagre e contra o velho rifão, pode atrair as moscas e os gulosos.

domingo, 28 de julho de 2013

Tarte de Laranja - Outra Receita



Tarte de Laranja
(Outra Receita)

Para a massa:
Põe-se 2 gemas de ovos numa tigela e misturam-se com 50 gr. de açúcar peneirado, batendo bem. Junta-se 125 gr. de margarina amolecida e 250 de farinha pouco a pouco mexendo sempre e um pouquinho de sal.
Unta-se uma forma de tarte, coloca-se a massa, por cima um papel vegetal e feijões para não deixar a massa levantar. Leva-se a forno quente durante 20 minutos.

Para o creme:
80 gr. de acçúcar com 3 gemas, bate-se bem, junta-se 1 colher de farinha, 1 colher de margarina. Depois deita-se-lhe 2 decilitros e meio de leite bem quente, lentamente mexendo sempre, e leva-se ao forno a engrossar (não muito grosso).
Cortam-se 3 ou 4 laranjas em fatias grossas e levam-se a cozer durante 3 ou 4 minutos numa calda de açúcar fraca.

Tira-se a tarte do forno e depois de fria, deita-se dentro o creme, por cima alguns palitos "la reinne" partidos ao meio no sentido do comprimento, salpicam-se com umas gotas de licor ou rum. (Pode substituir-se os palitos por pão de ló).
Por cima dispõem-se as fatias de laranja partidas ao meio dispondo-se como se fosse   uma flor.

Pincela-se depois com um pouco de doce de damasco diluido em água.

Existem outras duas receitas de Tarde de Laranja. Veja aqui e aqui.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Bolos de Requeijão

Carlos Bento da Maia, Tratado Completo de Cozinha e de Copa,
 edição de 1904, pág.507

Bolos de Requeijão

Requeijão - 250 gr.
Açúcar pilado - 250 gr.
Gemas de ovos - 8
Farinha de trigo - q.b.
Gema de ovo para dourar - q.b.

Toma-se o requeijão e igual peso de açúcar e misturam-se intimamente, até formarem uma massa uniforme; juntam-se-lhe em seguida as gemas de ovos, bate-se a mistura muito bem e acrescenta-se-lhe, pouco a pouco, farinha bastante para se poderem tender bolos, ficando a massa branda. Em seguida, tendem-se bolos pequenos, que se enfeitam com sulcos feitos com uma faca de pau e se douram com gema de ovo aplicada com a rama de uma pena, depois levam-se ao forno em tabuleiro untado com azeite, a cozer.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Bolo Inglês - Outra Receita

  

Bolo Inglês
(Outra Receita)

250 de açúcar, 150 de manteiga, 320 de farinha e 6 ovos. Bate-se o açúcar com a manteiga, junta-se as gemas, as claras batidas em castelo, a farinha e 1 colher (de chá) de fermento. Bate-se bem, juntam-se as frutas cristalizadas e vai a forno brando.
Existe outra receita de Bolo Inglês aqui.

domingo, 21 de julho de 2013

Bolo de Pão


Bolo de Pão

Batem-se 3 gemas com 3 colheres de açúcar. Junta-se miolo de 1 pão e meio, previamente demolhado em 2 decilitros e meio de leite. Junta-se 125 de margarina derretida, o resto do leite e as claras em castelo.
Vai ao forno em forma bem untada.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Pãesinhos de Minuto


Pãesinhos de Minuto

8 colheres de sopa bem cheias de farinha
4 colheres de sopa bem cheias de açúcar
2 gemas de ovos - 1 clara
Meia colher de sopa de manteiga - 1 pitada de sal - 1 colher de chá de fermento.

Misturam-se os ovos com o açúcar e a manteiga. Depois de misturado, junta-se a farinha, o sal e o fermento. 
Fazem-se bolinhos pequeninos, que vão a forno forte em tabuleiro untado com manteiga.

sábado, 13 de julho de 2013

Geleia (qualquer fruta)


Geleia (qualquer fruta)

2 litros de água para 1 kilo de açúcar.
Coze-se bem a fruta e passa-se por uma peneira e depois por um pano de algodão.
Deixa-se ganhar ponto de pasta.

Manoeis


Manoeis

500 gramas de açúcar
200 gramas de manteiga
8 ovos, 4 sem claras, bem batidos. Mistura-se 300 gramas de farinha triga.
Passa-se manteiga nas formas.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Creme de Ananás


Creme de Ananás

Põe-se num tacho umas rodelas de ananás cortadas aos bocados, junta-se açúcar a gosto e leva-se ao lume a ferver um pouco.
Faz-se um creme com 2 colheres de farinha maizena e o leite suficiente para fazer o creme, acrescenta-se um pouco de sumo de ananás e 1 colher de vinho do Porto. Junta-se este líquido ao ananás que está no tacho e deixa-se ferver devagar até fazer creme.
Serve-se gelado e enfeitado com ananás.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Porque hoje faz 3 meses que nos deixou



Maria Eduarda de Ataíde Sá e Melo Amaral Marques Teixeira

A minha Avó nasceu em 1925. Morreu em 2013, pouco menos de um mês antes de completar 88 anos.

Viveu uma vida feliz, apesar dos dissabores que numa existência em pleno são inevitáveis.

Nasceu no seio de uma família grande, privilegiada (a pulso, pelo Bisavô João), de refinada inteligência e humor. E partiu rodeada de uma família igualmente grande (dois filhos, um genro, seis netos, seis bisnetos e um número que já não sei contar de sobrinhos).

Escrever sobre a Avó não é tarefa fácil. É, garanto, sempre uma tarefa inacabada. As valências da sua pessoa são inúmeras, tanto há a salientar.

A par da inteligência, a “liberdade” foi aquilo que sempre me fascinou na Avó. A liberdade de escolher, de se adaptar, de se actualizar sempre, aceitando sempre, com uma enorme dignidade, cada novo desafio da vida: a viuvez, o desaparecimento precoce de todos os irmãos, um filho que, como tantos outros, foi à guerra e voltou, para depois de novo se ausentar para o outro lado do mundo, a mudança política e social em Portugal (que eu sei que a Avó abraçou e gostou - nos seus últimos meses de vida, e por diversas vezes, “deixou escapar” alguns comentários críticos à situação pré-25 de Abril).

Mais do que tudo, a Avó acompanhou, reflexiva e inteligentemente, a modernidade dos tempos. E sempre com uma elegância e uma postura como, desculpem-me a exclusão definitiva, nunca vi em mais ninguém. E foi assim na vida como na morte.

A Avó nunca viveu refugiada nos apelidos de nascença (que eram muitos), nem de vidas que já passaram e que não foram a sua. Construiu solidamente a sua biografia pelas acções que praticou. Nunca parou. O futuro, e nunca o passado, foi a sua vida. Olhou o primeiro de frente e do passado queria apenas as histórias, lembranças e recordações do que viveu mas nunca a ele ficou presa.

Ela própria o diz numa carta enviada a uma sobrinha em 2003, referindo-se à família, para ela tão importante e da qual ela própria foi um importante pilar:

Enquanto nós existirmos, as pessoas que amamos não morreram, porque vivem sempre na nossa lembrança e no nosso coração. Vamos recordá-las sempre com muita saudade, mas sem tristeza. Temos tantas coisas, tantos momentos, tantas lembranças tão boas nas nossas memórias, que é isso que devemos sempre conservar como um bem precioso. Temos de nos sentir felizes com a Família que Deus nos deu. Com os que já partiram e com todos os que temos junto de nós.

E isto tanto servia para a família como para os amigos. A Avó sempre cultivou grandemente as amizades. E tinha-as de longuíssima data. Não dispensava, fizesse Sol ou chuva, o chá semanal na Avenida de Roma com as colegas do Colégio.

Culturalmente, a Avó mantinha-se constantemente actualizada. Tantas vezes fui com ela ao Teatro, ao Cinema e a Exposições. Lembro-me, desde miúdo, de com ela conhecer a Gulbenkian como as minhas mãos. Levou-me ao Museu Grão Vasco. O ex-libris terá sido o Museu de Cera de Fátima… muito nos rimos. Falava-me de música, dos seus tempos no Conservatório Nacional de Música. Recordava comigo as grandes peças de Teatro que vira, os Bailados que assistiu, as Óperas.

Exercitava constantemente a memória e a inteligência.

Devorava palavras cruzadas (dava-as como álibi para comprar a revista Caras e outras).

Lia imenso e sempre com sentido crítico. E era tão bom ver o entusiasmo com que falava quando encontrava um novo – no sentido de desconhecido - autor que havia gostado. O último, penso, terá sido Rentes de Carvalho. O livro chamava-se “Ernestina”. Ofereci-o porque este era o nome de um cozinheira que tivera durante anos em sua casa. Uma figura que todos estimámos.

Mas para verem o quanto era importante a literatura para a Avó, aqui fica mais um excerto, desta feita de um postal de aniversário que me enviou em 2007:

À tarde, está calor e ficamos em casa. Leio 3 livros ao mesmo tempo. Levanto-me cedo e venho ler a Divina Comédia - o Inferno de Dante. É terrível e morro de medo. À tarde, para amenizar, leio as Cartas de Inglaterra do Eça e à noite não dispenso um policial. Assim se vai passando o tempo.”

Construiu assim uma grande biblioteca. Foi, aliás, a última grande obra que realizou na casa das Eiras. Mandou fazer, onde outrora funcionava a sala de refeições dos criados, uma biblioteca. A sua biblioteca.

Falar da Avó é, também, falar do Avô Manuel. Eram perfeitos um para o outro. Havia igualdade entre ambos e não se permitiam a fretes. Se um queria ir para a esquerda e o outro para a direita, assim era e encontrar-se-iam, de novo, mais à frente.

O Avô mimava-a constantemente. Com palavras, actos e nenhumas omissões. Tinham ambos uma inteligência forte e um sentido de humor apurado que se completavam. E nos longos meses da doença terminal do Avô a Avó foi uma heroína, até à exaustão física. Um exemplo. Mas era-o sempre perante a adversidade. Era seguro que encontraríamos nela um baluarte.

O Natal era, nunca lhe perguntei mas adivinha-se, a época favorita. Primeiro os passados na sua casa de infância, em Passos de Carvalhais, e por fim os passados na casa das Eiras que ela organizava e esmerava-se sempre.

Tudo profusamente iluminado e decorado. A lareira acesa. Por cima desta um presépio grande, com musgo verdadeiro, que a Avó sempre se ria e chamava a atenção para elementos “menos próprios” que nele habitavam: desde camelos decapitados, a uma confusa banda de música, um mocho de olhos esbugalhados, entre outras. O pinheiro, sempre verdadeiro, era cortada de alguma das suas matas.

Normalmente raquítico, com meia dúzia de agulhas onde se espalhavam as bolas e as fitas de Natal.

Tudo o resto era amor e muita comida. A canja, o bacalhau e o peru. Uma obscena mesa de doces, e taças e tacinhas de frutos secos, bombons de recheio e frutas cristalizadas. Sempre uma noite especial, com muita gente – a Tia e os primos de Vouzela, os meus irmãos, os meus pais, os caseiros da quinta e quem mais que aparecesse. A mesa de camilha com a braseira ligada (a lareira era mais decorativa que calorifica).

Haviam duas coisas que fascinavam a Avó: o Mar e as searas alentejanas (como somos diferentes até nisso!). Terá percorrido Portugal de lés a lés com o Avó… mas era sempre o Mar e as searas que lhe davam tranquilidade.

Tinha Espinho no coração. Era a praia de toda uma vida. E tantas histórias me contou. Foi lá, no Casino, que o Bisavó João – para grande escândalo de alguns presentes –  a levou para provar, pela primeira vez, vodka… a pedido da Avó (lembro-me de vê-la a beber caipirinha quando existia uma espécie de restaurante italiano em Santa Cruz da Trapa, há muitos anos).

Ouvi-la a contar as histórias das viagens de São Pedro do Sul para Espinho no célebre Vouguinha era de chorar a rir. Era todo um cerimonial e muitas horas de viagem. Aliás, histórias com comboios tinha muitas. Um atentado à bomba e um descarrilamento. Um deles foi sério. Foi parar, era noite escura, a um campo de milho.

Fico-me, para já, por aqui. São muitas as coisas que vêm à cabeça, tantas que se atropelam umas às outras e dificultam a escrita. Mais tarde, outro dia, voltarei a escrever.

Fica uma espécie de apresentação, que é de saudade, de amor e de falta. A vida ainda se está a reorganizar, a preencher os vazios da ausência. Foram anos e anos com um ritmo presente sempre certo. Agora não há os almoços de Terça e Quinta-feira. Agora não há os jantares aos Sábados. Vamos lá ver os Natais.

Para já, ainda não me adaptei.

Sorvete de Champagne


Manual do Confeiteiro e Pasteleiro: Nova arte do Conserveiro e Doceiro, Enciclopédia Bordalo, 
Vol. XII, Editor Arnaldo Bordalo, Lisboa, 1904 - pág.34
 
 
Sorvete de Champagne
 
Este sorvete, um dos mais saborosos, obtem-se do seguinte modo: Misturam-se 500 gramas de xarope de açúcar, em frio, com duas colheradas (das de sopa) de sumo de laranjas, e meia garrafa de champagne; batem-se à parte 4 claras de ovos, e junta-se-lhes, pouco a pouco, aquele liquido; quando tudo estiver muito bem ligado, mete-se na sorveteira, onde gela, e serve-se depois com amêndoas torradas.

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