quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Aprenda a Viver Comendo Melhor, por Glicínia Quartin

E eis que ao folhear um dossier com imensos recortes de revistas e jornais, me aparece esta maravilha e, ainda por cima, assinado pela maravilhosa actriz Glicínia Quartin. Penso que seja algo de inícios dos anos 60 do séc. XX... mas não garanto. Que coisa inesperada!



 
Glicínia Quartin

(Lisboa, 19-12-1924 – Lisboa, 27-04-2006)

Glicínia Vieira Quartin iniciou a sua carreira no teatro amador, em 1951. Após várias passagens por espetáculos de companhias amadoras e de teatro televisivo, a sua estreia profissional ocorreu em 1964, no Teatro Experimental do Porto, com o espetáculo Os Burossáurios.

Ao longo da sua carreira manteve um esforço de aperfeiçoamento da sua formação, participou em vários filmes e realizou traduções de peças de teatro e livros de pedagogia. Integrou frequentemente o elenco da Cornucópia desde o seu ano de formação e recebeu vários prémios pela sua atividade profissional.

Filha do jornalista António Pinto Quartin e de Deolinda Quartin, professora do ensino primário na Escola Oficina nº 1, Glicínia frequentou a escola onde a mãe lecionava, no Largo da Graça, e aí fez teatro. Terminou o curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências de Lisboa em 1954 e especializou-se em Biologia Marítima. Em 1955, começou a trabalhar como assistente do Grupo de Investigação da Comissão Consultiva Nacional das Pescarias do Noroeste Atlântico. Foi bolseira do Instituto de Alta Cultura em estágios no Institut of Marine Research em Bergen (Noruega) e no Greenland Fishery Investigations, em Copenhaga, em 1957. Fez um estágio no Fisheries Laboratory em Lowestaft, em Inglaterra, em 1959. 

A sua atividade como atriz teve início em 1951 no teatro amador, estreando-se no Teatro Experimental da Rua da Fé, em Roberto e Melisandra, de Tomás Ribas. Passou por outras companhias amadoras, como o Teatro Experimental de Lisboa, onde em 1957 interpretou Inês Pereira no auto vicentino; a companhia da Sociedade Guilherme Coussoul, onde representou Matilde em O dia seguinte, de Luiz Francisco Rebello, encenado em 1958 por Paulo Renato; e no Grupo de Teatro Popular da Caixa Económica Operária, que no mesmo ano levou à cena a peça de Rebello com encenação de Humberto d’Ávila.

Fez teatro televisivo, tendo sido dirigida por Pedro Bom, em 1952, em diversos trabalhos, como Guerras de Alecrim e Manjerona, de António José da Silva, Auto da Alma, de Gil Vicente e Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Em 1960 foi dirigida, na televisão, por Artur Ramos em Nas covas de Salamanca, de Cervantes. A decisão de romper com a carreira de bióloga para se dedicar ao teatro aconteceu em 1962, depois de protagonizar o filme Dom Roberto, de Ernesto de Sousa. Após a frequência, entre 1962 e 1964, da escola de teatro de Alfredo Farsen, em Roma, iniciou a carreira profissional, no Teatro Experimental do Porto, em 1964, no espetáculo Os Burossáurios, de Silvano Ambrogi, com tradução sua e encenação de João Guedes e, no ano seguinte, trabalhou no Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins.

Em 1966, ingressou no Teatro Experimental de Cascais, onde fez parte do elenco de A casa de Bernarda Alba, de Lorca, O mar, de Miguel Torga, e A maluquinha de Arroios, de André Brun, tendo recebido o Prémio Revelação da Casa da Imprensa, pelo desempenho da personagem D. Alzira neste último espetáculo. Entre 1967 e 1970, foi atriz na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro e participou em vários espetáculos, como Equilíbrio instável, de Edward Albee, O pecado de João Agonia, de Bernardo Santareno e A Celestina, de Alejandro Casona, entre outros. Em 1968, entrou naquela que foi a primeira encenação em Portugal dos Dias felizes de Samuel Beckett, levada à cena pela Casa da Comédia, por proposta sua, com encenação de Artur Ramos. Pela sua prestação nesse espetáculo recebeu o Prémio Lucília Simões – Prémio Nacional de Teatro e o Prémio da Casa da Imprensa. O espetáculo foi reposto em 1970 e em 1982.

Em 1969 e 1970, frequentou o Curso de Preparação de Atores de Adolfo Gutkin, na Fundação Calouste Gulbenkian, e com Melim Teixeira, Fernanda Alves, João Mota, Mário Jacques e Manuela de Freitas, fundou Os Bonecreiros (Teatro Laboratório de Lisboa), em 1970. No ano seguinte, com Artur Ramos e Rogério Paulo fundou o Teatro do Jovem Espectador, onde se estreou como encenadora, em Emílio e os detectives, de Erich Kästner, levado à cena no Teatro Villaret. Nesses dois anos participou também em espetáculos do Grupo de Acção Teatral. Em 1972, frequentou a Escola Piloto para a Formação de Professores de Educação pela Arte, no Conservatório Nacional, onde foi professora. Nesse ano, pela sua prestação em As criadas, de Jean Genet, encenado por Vítor Garcia, recebeu o Prémio Lucília Simões – Prémio Nacional de Teatro e, com as atrizes Eunice Muñoz e Lourdes Norberto, o Prémio de Interpretação da Casa da Imprensa. Em 1973, Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra fundaram o Teatro da Cornucópia, convidando-a a participar no espetáculo de estreia, O misantropo, de Molière, tendo a seguir participado também em O terror e a miséria no III Reich de Brecht em 1974, Pequenos burgueses, de Gorki, em 1975 e, no ano seguinte, Ah Q, de Jean Jourdheuil e Bernard Chartreux. Colaborou regularmente com esta companhia até ao fim da sua carreira, em 2004.

Em 1976, fez o estágio New Music in Action, na Universidade de York. Continuando a colaborar com o Teatro da Cornucópia, trabalhou também com a Companhia Nacional 1, Os Cómicos e a Casa da Comédia na última metade dos anos 70 e nos anos 80. A partir de 1996, repartiu-se entre trabalhos na Cornucópia e nos Artistas Unidos, estreando-se nesta companhia em O fim ou Tende misericórdia de nós, de Jorge Silva Melo. Nesse ano, foi nomeada para o Prémio Bordalo, da Casa da Imprensa. Em 2004, o último ano em que esteve profissionalmente ativa, foi galardoada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, por Jorge Sampaio.

Para além do teatro, Glicínia Quartin trabalhou também para a televisão e para o cinema, fazendo parte do elenco de filmes de José Ernesto de Sousa, Rogério Ceitil, José Álvaro de Morais, Jorge Silva Melo, João Botelho, Solveig Nordlund, Manuel Mozos, Luís Filipe Rocha, Jeanne Waltz e Manoel de Oliveira, entre outros. Traduziu também peças de teatro e livros de pedagogia, questão que sempre a interessou. Em 2004, Jorge Silva Melo realizou uma entrevista filmada a Glicínia Quartin: Conversas com Glicínia.

No bairro da Ameixoeira, em Lisboa, existe, desde 2009 uma avenida com o nome da atriz.

 Fonte: Instituto Camões

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