Autores Vários: O Cozinheiro dos Cozinheiros, Edição de Paul Plantier,
Lisboa, 1877 - 2ª Edição. Pág.709
Modo de Frigir Batatas
(...)
Apercebo-me mandando vir de Cintra a manteiga mais fresca, e compro as melhores batatas que encontro. Depois disto vou para a cozinha e sento-me à banca das operações. Descasco as batatas cruas, aparo-as escrupulosamente e parto-as em fatias de meio dedo de grossura. Em cima de lume muito brando, quase de um rescaldo, coloco a minha frigideira de porcelana, lanço-lhe um bocadinho de manteiga e vou alourando pouco e pouco, branda e sucessivamente as minhas rodelas. É uma operação para que se não quer pressa, mas dedicação, mimo e paciência.
Depois de meio-fritas as batatas, vou as retirando e pondo à janela, ao ar. Terminado este primeiro serviço, faço atear uma forte fogueira e reponho no lume a frigideira com um grande naco de manteiga. Quando esta derretida principia a saltar em bolhas de fervura lanço-lhe outra vez as batatas, que a esse tempo devem estar já frias. As batatas afogadas na manteiga em ebulição empolam então pronta, rápida, portentosamente e cada uma das rodelas toma logo uma forma esférica. É admirável, é quase miraculoso o resultado deste processo. A batata fica fofa, amanteigada, farinhenta, inchada, leve e mole como uma filhó ou como um sonho!
Ramalho Ortigão
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