segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sarah Bernard (na realidade, Bernhardt)

Doces e Cosinhados, de Isalita, Centro Tipográfico Colonial, 1925, pág. 258/259
 
Sarah Bernard (Bernhardt)

40 gr. de fécula de batata, 45 gr. de farinha de trigo, 90 gr. de açúcar, 4 ovos e 30 gr. de manteiga. Bate-se como para pão de ló. Deita-se num tabuleiro untado de manteiga e polvilhado de farinha. Depois de frio cortam-se uns quadrados de 5 centimetros. Se a massa está muito alta, cortam-se em duas ou três partes de altura, por forma a que depois de sobrepostos dois com o recheio, não fiquem com mais de 4 a 5 centrimetros.
Recheio: 120 gr. de manteiga, 3 ovos, açúcar muito fininho e baunilha. Deita-se a manteiga numa tijela e bate-se com os ovos, pondo um de cada vez. Depois de bem ligado, mistura-se o açúcar a gosto e a baunilha. Bate-se até desaparecer o açúcar. Recheiam-se com isto os quadrados. Barram-se com um pouco desta manteiga em volta e salpicam-se com amêndoa picada e torrada, menos em cima, que se enfeitam com fatias muito fininhas de amêndoa, cortada a todo o comprimento, que se espeta toda direitinha na parte de cima dos quadrados.

Curiosidade:


Uma das mais conhecidas actrizes de teatro de sempre.
Nasceu em Paris, França, a 22 ou 23 de Outubro de 1844;
morreu em Paris, a 26 de Março de 1923.
 
Filha natural de uma famosa cortesã holandesa de origem judia, Judith van Hard e de um estudante de direito francês, Edouard Bernard, que se tornará notário no porto do Havre, foi-lhe dado o nome de Henriette-Rosine Bernard. Como a presença de uma criança interferia com a vida da mãe, foi enviada para uma pensão para raparigas de Auteil e mais tarde deu entrada num convento de Versalhes. Criança difícil e de saúde frágil, converteu-se ao catolicismo, sendo baptizada e fazendo a primeira comunhão em 1856, querendo mais tarde professar e tornar-se freira. Um dos amantes da mãe, o duque de Morny, meio-irmão materno do imperador Napoleão III, decidiu que a rapariga deveria ser actriz, e quando completou 16 anos conseguiu que fosse admitida no Conservatório de Paris.
Não sendo considerada uma estudante muito promissora, Sarah, que admirava alguns dos seus professores, achou que os métodos de ensino da instituição eram antiquados e muito tradicionalistas. Deixou o Conservatório em 1862, com 18 anos, sendo aceite, devido ao empenho do duc de Morny, na Comédie Française, como discípula. Nas três diferentes peças em que teve de entrar, a primeira das quais foi a Iphigénie et Aulide de Racine, em 11 de Agosto de 1862, necessárias para poder passar a  actriz residente, não foi notada pelos críticos. O seu contrato foi cancelado no ano seguinte, devido a ter esbofeteado uma das principais actrizes, que tinha sido um pouco rude com a sua irmã mais nova, Régine.
Passou então a fazer parte do elenco do Thêatre du Gymnase-Dramatique. O período foi de reflexão, devido aos pequenos papéis que lhe atribuíam em peças de pouco interesse, tendo pensado mesmo em abandonar os palcos. É também um período onde os amantes se sucedem, entre os quais o príncipe de Ligne, pai segundo parece do seu único filho, Maurice.
Em 1866, foi contratada pelo Teatro Ódeon, e com a competente companhia residente do teatro e muito trabalho começou a sua ascensão. O seu primeiro sucesso foi no papel de Anna Damby na peça Kean de Alexandre Dumas pai, mas a sua interpretação de Cordélia no Rei Lear, de Shakespeare, já tinha sido notada. Já conhecida como a actriz favorita dos estudantes parisienses, a sua interpretação, em 1869, do trovador Zanetto na peça em um acto e em verso de François Coppée Le Passant, o seu primeiro papel em travesti, teve um imenso sucesso, que a levou a uma representação privada para Napoleão III.
Durante a guerra franco-prussiana de 1870-1871 organizou um pequeno hospital militar nas instalações do teatro. Com o fim da guerra, a deposição de Napoleão III, e a proclamação da República, a actriz, mal vista pelos republicanos, devido às suas conhecidas relações e defesa de personagens do anterior regime, conseguiu o principal papel feminino, o da Rainha Maria, na peça de Victor Hugo Ruy Blas, que tinha acabado de chegar do exílio. A sua actuação encantou as audiências, devido sobretudo ao lirismo da sua voz. Foi a razão da célebre frase de Victor Hugo, que afirmou que a actriz tinha uma «voz de oiro», caracterização que perdurou apesar dos críticos já descreverem a voz de Sarah Bernhardt como sendo prateada, devido à sua parecença com o tom de uma flauta.
Em 1872 deixou o Ódeon e regressou à Comédie-Française, possivelmente devido à intervenção de Hugo. Participou com sucesso na Zaire de Voltaire, mas normalmente os seus papéis eram secundários, até ao momento em que interpretou o papel de Vénus na Phèdre de Racine, substituindo a actriz principal, temporariamente doente. As críticas foram entusiásticas, ainda por cima porque se pensava que Sarah não tinha capacidade de interpretar papéis apaixonados. Mais tarde interpretou a Doña Sol no Hernani de Victor Hugo, de uma maneira que terá levado o autor às lágrimas.
Tendo começado a esculpir e a pintar, exibiu as suas obras de escultura de 1876 a 1881 no Salon de Paris, tendo-lhe sido atribuída uma menção honrosa no primeiro ano. Em 1880 exibiu também uma pintura.
Em 1879, Londres rendeu-se à interpretação de Sarah Bernhardt no segundo acto da Phédre, produzido no Gaiety, durante a exibição da Comédie em Inglaterra. Uma carreira internacional estava à sua disposição, a partir desse momento. Por isso, o regresso às instalações da companhia trouxeram de novo os já famosos ataques de má disposição. O corte com a Comédie deu-se rapidamente, e em 1880 Sarah Bernhardt abandonou a companhia oficial francesa, indo representar em Londres e depois na Dinamarca.
Tendo criado a sua própria companhia, com a ajuda do empresário londrino Jarrett, partiu para os Estados Unidos, acompanhada de uma secretária, um mordomo, dois cozinheiros, duas criadas de quarto e um empregado. Durante dois meses percorrerão cinquenta cidades americanas. Nova Iorque é a primeira cidade americana a vê-la, em 8 de Novembro de 1880. Regressará ao Novo Mundo mais oito vezes. De regresso à Europa actua em todo o lado, tirando a Alemanha. Em Odessa, na terra dos czares, ia sendo cachinada por anti-semitas russos. Mas o czar presta-lhe homenagem pública.
Na década de 80 aparece na sua vida o dramaturgo Victorien Sardou, que escreve para a actriz Fédora (1882), Théodora (1884), La Tosca (1887) e Cléopâtre (1890), dirigindo-a nas suas próprias peças e levando-a a actuar de uma maneira extrovertida, em cenários exóticos e com guarda-roupas riquíssimos, no Teatro de La Porte Saint-Martin, de que a actriz se tinha tornado proprietária. Entretanto casara, em 1882 em Londres, com Jacques Damala, um jovem grego amante da sua irmã mais velha, actor sem talento e drogado notário. O casamento não dura devido à morte do marido.
De 1891a 1893 fez uma digressão mundial que incluiu a Austrália e a América do Sul, para além da América do Norte e as principais capitais europeias. O seus papéis mais populares, para além da Phèdre, são o de Marguérite Gautier na Dama das Camélias de Alexandre Dumas filho e no papel principal na Adrienne Lecouvreur de Eugène Scribe. No fim da digressão, de regresso a Paris, compra o Teatro La Renaissance, que inaugura com a peça de Jules Lemaitre, Les Rois. Em 1896 fez um sucesso com uma adaptação do Lorenzaccio de Alfred de Musset, sendo homenageada oficialmente em Paris, com a realização de uma grande festa e envio de felicitações dos quatro cantos do mundo.
Em 1899 vende o La Renaissance e muda-se para o Théâtre des Nations, que inaugura com La Tosca. Em 1900 inaugura o Thêatre Sarah Bernhardt com a peça de Edmond de Rostand L'Aiglon. Nesse palco representa o bom e o muito mau. As peças medíocres são apresentadas por necessidade financeira ou para retribuição a amigos.
Uma ferida mal curada no joelho direito, provocada por uma queda na última cena da Tosca, durante uma digressão pela América do Sul em 1905, que apanha gangrena obrigou à amputação da perna em 1915. O facto não a impediu de visitar os soldados na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, e de, no ano seguinte, voltar aos Estados Unidos para uma extenuante digressão de 18 meses. Em Novembro de 1918 regressou a França, aproveitando o fim da guerra para realizar uma digressão pela Europa.
Em 1920 publicou um romance, Petite Idole, obra com algum interesse, já que a heroína é uma idealização da carreira e das ambições da actriz.
Durante os ensaios finais da peça de Sacha Guitry Un sujet de Roman, desmaiou, recuperando de forma a participar no filme do mesmo autor La Voyante, produzido por Hollywood, e filmado na sua própria casa em Paris, mas durante o qual foi acometida de várias síncopes. Acabou por morrer em Março de 1923. 


Sarah Bernhardt, actriz, dramaturga e escultora, visitou quatro vezes os nossos teatros para representar algumas das peças de maior êxito da sua carreira artística. A imprensa portuguesa deu, então, a conhecer a actriz que se permitia todas as excentricidades: era ousada nas atitudes, foi sustentada por amantes, indignou e fascinou dóceis respeitadores das leis. Não esqueceu, também, a ‘face’ da Sarah que militou contra a pena de morte, foi enfermeira no cerco de Paris, pugnou pela inocência do capitão Dreyfus e defendeu Zola. Depois disso, em 1916, e com os seus presumíveis 72 anos, doente e sem uma perna, foi à frente de batalha recitar Le Vol de la Marseillaise para levantar o moral das tropas. Quando lhe foram pedir para assinar um documento a favor dos direitos das mulheres, lembrou que tinha feito tudo quanto lhe tinha apetecido e não assinou porque “preferia os actos às declarações”.


 

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