Cascais viveu, nestes dias 20 e 21 de Março de 2025, dias difíceis, devido ao mau tempo e aos estragos gigantescos que este provocou na Vila. Mas viveu também dias felizes com a realização das I Jornadas Portuguesas de Gastronomia: a doçaria portuguesa - passado, presente e futuro, com organização da Câmara Municipal de Cascais através do empenho de Cláudia Mataloto, Guida Cândido e João Miguel Henriques, apoiados numa comissão cientifica sólida e multi/pluri-disciplinar que se reflectiu na escolha dos assuntos e dos intervenientes, palestrantes e painéis apresentados. Não deixo os agradecimentos para o final, deixo-os já no início. Muitos parabéns a todos pela excelente iniciativa e organização. Pelo trabalho desenvolvido, tanto dele, acredito, pouco visível mas tão importante, quer para a fixação da memória, quer para a criação de outras mas, sobretudo, os trabalhos desenvolvidos junto da população e o retorno que todo esse trabalho terá.
Os assuntos apresentados foram tão diversos como a Noz de Cascais, as Queijadas de Cintra, o Alfenim - nos Açores mas não só -, os Jesuítas e a figura extraordinária do Abade de Priscos. E os painéis de debate acontecerem em conversa acesa e civilizada, de união e consenso mas também de discórdia amigável. Os temas foram, e o que mais "mexe" com o nosso imaginário colectivo: “Quão conventual é o doce que sai do convento?” com Isabel Drumond Braga (FLUL); João Pedro Gomes (ESEC); Dina de Sousa (CMC); Ana Soeiro (Associação Qualifica/oriGIn PORTUGAL); Ana Monteiro (Confraria da Marmelada Branca de Odivelas) e contou com a moderação de Guida Cândido (CMC, Investigadora CECH – UC). No dia seguinte, dia 21, tivemos "Inovação na Doçaria: Tradição e Novos Sabores" com Licergio Pimentel (Sabores com História - Doçaria Tradicional); Paulo Queirós (Restaurante O Cordel | ADOC); Duarte Lebre de Freitas (Confraria da Rabanada); Ricardo Bonacho (Universidade Europeia); Rui Mota (EHTE); João Pedro Gomes (Docente de gastronomia ESEC. Investigador CECH) com a moderação de Maria José Pires (ESHTE). A tarde terminou com o terceiro e último painel que conversou, emotiva e apaixonadamente, sobre "A Sustentabilidade na Produção de Doces" numa "discussão entre produtores e pasteleiros sobre a produção de doces mais sustentável, incluindo o uso de ingredientes orgânicos e técnicas que reduzem o desperdício. Chef Daniel Aleixo (Cozinha com Alma); Rosa Neto (CERCICA); Joana Baptista (AECC); André Miguel (Cascais Ambiente) e Cátia Goarmon (Chef/TV Host). A moderação ficou a cargo, e excelentemente, de António Melo (Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Porto - Coordenador do Projeto CEGaS).
Só posso esperar que sejam publicadas as comunicações apresentadas para que fiquem registadas para memória futura. Guida Cândido anunciou que as II Jornadas estão asseguradas também para Março de 2026 e debruçar-se-á sobre a Cozinha Saloia.
Para homenagear a iniciativa fui socorrer-me de uma publicação que eu considero um "clássico discreto" - Coisas Boas - Receitas Culinárias, Associação das obras assistenciais das Conferências Femininas de S. Vicente de Paulo, Lisboa, Edição Livros do Brasil, s/d - com uma receita autoral de Nozes de Cascais e outra, ligeiramente confusa, para o aproveitamento de claras de ovos, agora que já não servem - como nunca serviram - para engomar as roupas de freiras e frades, mas porque a sustentabilidade foi o tema dominante e é também isto: aproveitar para não desperdiçar.
Nozes de Cascais
100 g. de amêndoa pelada e ralada
4 a 5 gemas
Açúcar q.b.
Baunilha q.b.
Metades de nozes q.b.
Põe-se o açúcar ao lume com água até fazer ponto não muito forte. Junta-se a baunilha, as amêndoas e em esfriando, as gemas uma a uma, volta ao lume a secar. Tendem-se umas bolas onde se colam as nozes. Passam-se por açúcar caramelo.
Maria Guilhermina Sousa Dias
Bolo Claro
(Aproveitamento de claras)
250 g. de açúcar refinado
125 g. de manteiga
80 g. de claras de ovos
125 g. de farinha
125 g. de miolo de amêndoa
3 colheres de sopa de açúcar pilé
1 colher de doce de fermento
Bate-se a manteiga com o açúcar. Juntam-se-lhe 50 g. de amêndoa moída na máquina e sem seguida batem-se as claras em castelo. Deitam-se uma porção de claras na mistura batida, e vai-se deitando depois pouco a pouco a farinha previamente peneirada com o fermento batendo sempre muito bem. Junta-se por fim o resto das claras e deita-se na forma espalhando bem a massa. Antes de começar a bater o bolo devem espalhar-se com uma faca as 50 g. de miolo de amêndoa depois de peladas. Mistura-se por fim com as colheres de açúcar pilé e deita-se por cima da massa espalhada bem. Quer forno moderado.
Fernanda Matos
Quero agradecer também à minha querida amiga NB o me ter levado a conhecer o extraordinário Bife Com Molho do muy antigo e nobre John Bull, em Cascais. A fotografia não faz jus e o ovo foi um acrescento meu:
E não podia deixar de registar o outro lado destes dias difíceis para tantas pessoas, edifícios e instituições. No caso das fotos, a bela casa do Museu Castro Guimarães:
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