quinta-feira, 23 de junho de 2016

Melindres à Amélia Rey Colaço

Guia da Doceira em sua casa dedicado aos Artistas do Teatro Português,
de Maria Margarida (pseud. Bernardino Alves Lopes ?), [1934], Cartaxo, Tip. Treze, pág. 43
 
 
Melindres à Amélia
Rey Colaço
 
Batem-se 10 gemas e 3 claras com 300 grs. de açúcar branco, depois de muito bem batido, adiciona-se-lhe 7 grs. de canela em pó e 120 grs. de farinha peneirada; volta-se a bater muito bem e deitam-se em latinhas barradas com manteiga, indo em seguida ao forno.
 
 
Amélia Lafourcade Schmidt Rey Colaço de Robles Monteiro, de seu nome completo, nasceu em Lisboa a 2 de Março de 1898.  Era a mais nova das quatro filhas de Alice Lafourcade Schmidt e de Alexandre Rey Colaço, pianista e figura de renome no meio artístico. Cresceu num ambiente economicamente confortável e culturalmente rico, em contacto com uma elite intelectual e artística. Em Dezembro de 1911 foi com a irmã Maria para Berlim, para casa da avó materna, com o objectivo de estudarem música. Também aqui encontrou um ambiente cultural estimulante, nas constantes tertúlias em casa da sua avó, Madame Kirsinger, frequentadas por vários artistas da capital alemã. Foram os espetáculos de Max Reinhardt com o Deutsches Theater, que seguiu atentamente nas suas estadias em Berlim, que atraíram Amélia para a carreira de atriz. A grande amizade entre o pai de Amélia e Augusto Rosa (ator, co-fundador da Companhia Rosas & Brazão) determinou que fosse este a iniciar Amélia na arte teatral, com lições particulares de exigente disciplina. Então discípula de Augusto Rosa estreou-se no Teatro República com 19 anos, em 1917 em Marianela, logo despertando o interesse da crítica e do público. Amélia ficou no São Luiz até 1919, recusando convites para integrar companhias espanholas e só saindo para se juntar à Companhia de Lucinda Simões, no Teatro do Ginásio, que, de resto, abandonou em abril de 1920, porque fora entretanto contratada para a época estival do Teatro Nacional. Acabou por ficar como societária deste teatro na época de 1920-21. Através de Augusto Rosa, Amélia conheceu Robles Monteiro, ator e também discípulo daquele, e com ele casou em dezembro de 1920, de quem virá a ter uma filha que igualmente seguirá a carreira teatral, Mariana Rey Monteiro. Criou com o seu marido, a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, cuja longevidade – 53 anos, 35 dos quais à frente do Teatro Nacional – se mantém, até hoje, inigualável. Além da interpretação, destacou-se pelo requinte e bom gosto que aplicou à concepção plástica de grande parte dos seus espectáculos. Responsável pela gestão administrativa da companhia após a morte de Robles Monteiro, dirigiu este grupo até à sua extinção, em 1974.  Destacou-se em peças como Zilda (1921), de Alfredo Cortez, peça escolhida para a estreia da companhia, a 18 de junho de 1921, no Teatro de S. Carlos; A Castro (1934), de António Ferreira, Electra e os fantasmas (1943), de Eugene O’Neill, A visita da velha senhora (1960), de Dürrenmatt.  Como atriz, foi aplaudida nos mais variados géneros e papéis, como a sua personagem em O lodo (1923), de Alfredo Cortez, para a qual estudou as posturas e gestos de prostitutas, e com a qual escandalizou o público. A morte de Robles Monteiro em 1958 foi um golpe duríssimo para Amélia tanto a nível pessoal como profissional. Assumiu as responsabilidades de gestão administrativa até aí desempenhadas pelo marido e passou a partilhar a direção da companhia com a filha de ambos, Mariana Rey Monteiro. A situação da companhia ficou dramaticamente comprometida com o incêndio no Teatro Nacional, a 2 de dezembro de 1964, na medida em que, juntamente com o edifício, desapareceu todo o espólio da companhia, incluindo cenários, figurinos e adereços acumulados ao longo de 43 anos de atividade. Menos de duas semanas depois, a 15 de dezembro, Amélia e a companhia apresentaram Macbeth (o espetáculo em cena aquando do incêndio) no Coliseu dos Recreios, como prova da sua determinação em não desistir. No entanto, Amélia ainda teve que ultrapassar, em dezembro de 1967, outro incêndio no Teatro Avenida, onde a companhia estava instalada desde a sua saída do Nacional. Sem esmorecer, levou a companhia para o Capitólio (1968-70) e de seguida para o Trindade, que partilhou com uma companhia de opereta, apresentando apenas dois ou três espetáculos por temporada. Com a revolução de abril de 1974, com um panorama teatral mudado e crescentes dificuldades financeiras, Amélia encerrou a atividade da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.  O seu interesse pelo teatro manteve-se vivo e voltou a pisar os palcos em 1985 no espetáculo El-Rei Sebastião, de José Régio, encenado por Carlos César. Fez também uma incursão pela televisão, na série da RTP Gente fina é outra coisa, experiência que muito a desiludiu. A sua paixão pelo teatro voltou a refletir-se, no final da sua vida, no apoio que deu à concretização do projeto do Museu Nacional do Teatro. Morreu em Lisboa a 8 de Julho de 1990.
Fonte: Cinema Português  

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