Guia da Doceira em sua casa dedicado aos Artistas do Teatro Português,
de Maria Margarida (pseud. Bernardino Alves Lopes ?), [1934], Cartaxo, Tip. Treze, pág. 43
Melindres à Amélia
Rey Colaço
Batem-se 10 gemas e 3 claras com 300 grs. de açúcar branco, depois de muito bem batido, adiciona-se-lhe 7 grs. de canela em pó e 120 grs. de farinha peneirada; volta-se a bater muito bem e deitam-se em latinhas barradas com manteiga, indo em seguida ao forno.
Amélia Lafourcade Schmidt Rey Colaço de Robles Monteiro, de seu nome 
completo, nasceu em Lisboa a 2 de Março de 1898.  Era a mais nova das 
quatro filhas de Alice Lafourcade Schmidt e de Alexandre Rey Colaço, 
pianista e figura de renome no meio artístico. Cresceu num ambiente 
economicamente confortável e culturalmente rico, em contacto com uma 
elite intelectual e artística. Em Dezembro de 1911 foi com a irmã Maria 
para Berlim, para casa da avó materna, com o objectivo de estudarem 
música. Também aqui encontrou um ambiente cultural estimulante, nas 
constantes tertúlias em casa da sua avó, Madame Kirsinger, frequentadas 
por vários artistas da capital alemã. Foram os espetáculos de Max 
Reinhardt com o Deutsches Theater, que seguiu atentamente nas suas 
estadias em Berlim, que atraíram Amélia para a carreira de atriz. A 
grande amizade entre o pai de Amélia e Augusto Rosa (ator, co-fundador 
da Companhia Rosas & Brazão) determinou que fosse este a iniciar 
Amélia na arte teatral, com lições particulares de exigente disciplina. 
Então discípula de Augusto Rosa estreou-se no Teatro República com 19 
anos, em 1917 em Marianela, logo despertando o interesse da crítica e do
 público. Amélia ficou no São Luiz até 1919, recusando convites para 
integrar companhias espanholas e só saindo para se juntar à Companhia de
 Lucinda Simões, no Teatro do Ginásio, que, de resto, abandonou em abril
 de 1920, porque fora entretanto contratada para a época estival do 
Teatro Nacional. Acabou por ficar como societária deste teatro na época 
de 1920-21. Através de Augusto Rosa, Amélia conheceu Robles Monteiro, 
ator e também discípulo daquele, e com ele casou em dezembro de 1920, de
 quem virá a ter uma filha que igualmente seguirá a carreira teatral, 
Mariana Rey Monteiro. Criou com o seu marido, a Companhia Rey 
Colaço-Robles Monteiro, cuja longevidade – 53 anos, 35 dos quais à 
frente do Teatro Nacional – se mantém, até hoje, inigualável. Além da 
interpretação, destacou-se pelo requinte e bom gosto que aplicou à 
concepção plástica de grande parte dos seus espectáculos. Responsável 
pela gestão administrativa da companhia após a morte de Robles Monteiro,
 dirigiu este grupo até à sua extinção, em 1974. 
Destacou-se em peças como Zilda (1921), de Alfredo Cortez, peça 
escolhida para a estreia da companhia, a 18 de junho de 1921, no Teatro 
de S. Carlos; A Castro (1934), de António Ferreira, Electra e os 
fantasmas (1943), de Eugene O’Neill, A visita da velha senhora (1960), 
de Dürrenmatt.  Como atriz, foi aplaudida nos mais variados géneros e 
papéis, como a sua personagem em O lodo (1923), de Alfredo Cortez, para a
 qual estudou as posturas e gestos de prostitutas, e com a qual 
escandalizou o público. A morte de Robles Monteiro em 1958 foi um golpe 
duríssimo para Amélia tanto a nível pessoal como profissional. Assumiu 
as responsabilidades de gestão administrativa até aí desempenhadas pelo 
marido e passou a partilhar a direção da companhia com a filha de ambos,
 Mariana Rey Monteiro. A situação da companhia ficou dramaticamente 
comprometida com o incêndio no Teatro Nacional, a 2 de dezembro de 1964,
 na medida em que, juntamente com o edifício, desapareceu todo o espólio
 da companhia, incluindo cenários, figurinos e adereços acumulados ao 
longo de 43 anos de atividade. Menos de duas semanas depois, a 15 de 
dezembro, Amélia e a companhia apresentaram Macbeth (o espetáculo em 
cena aquando do incêndio) no Coliseu dos Recreios, como prova da sua 
determinação em não desistir. No entanto, Amélia ainda teve que 
ultrapassar, em dezembro de 1967, outro incêndio no Teatro Avenida, onde
 a companhia estava instalada desde a sua saída do Nacional. Sem 
esmorecer, levou a companhia para o Capitólio (1968-70) e de seguida 
para o Trindade, que partilhou com uma companhia de opereta, 
apresentando apenas dois ou três espetáculos por temporada. Com a 
revolução de abril de 1974, com um panorama teatral mudado e crescentes 
dificuldades financeiras, Amélia encerrou a atividade da Companhia Rey 
Colaço-Robles Monteiro. 
O seu interesse pelo teatro manteve-se vivo e voltou a pisar os palcos 
em 1985 no espetáculo El-Rei Sebastião, de José Régio, encenado por 
Carlos César. Fez também uma incursão pela televisão, na série da RTP 
Gente fina é outra coisa, experiência que muito a desiludiu. A sua 
paixão pelo teatro voltou a refletir-se, no final da sua vida, no apoio 
que deu à concretização do projeto do Museu Nacional do Teatro. Morreu 
em Lisboa a 8 de Julho de 1990.
Fonte: Cinema Português   

 
 
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário